segunda-feira, 16 de maio de 2011

pedalando (Linda)

Acordado na madrugada fria
Pego minha bicicleta e vou
Simplismente fluo, em uma direção: frente
Logo pego a estrada que passa perto de casa
Um dia de pensamentos intensos e contínuos
A visão do horizonte embassado, sabendo que logo ali, o mar
Para sentir a energia em ondas fortes que quebram o meu silêncio
Preciso pensar, preciso refletir, senão enlouqueço...
As músicas preferidas no fone de ouvido
Transmitida ao meu cérebro, que transmite por minha boca
Recantando as canções, nem percebendo a lama atingindo minhas costas
A sujeira que nem importa. Como me importo as vezes com coisas tão simples...
Fujindo de algo, procurando algo, procurando fugir
Algumas pedalas na noite nublada de azul claro, escuro e cinza
Em um ponto de ônibus deserto um cão, uma cadela logo percebi
O nome dela é Linda, a vi pela primeira vez
Não importa quantos nomes ela já tenha, comigo é Linda, pois ela é linda
Com o olhar medroso e desconfiado, permitiu aproximar-me
Doce, calma, serena, amorosa, carinhosa, amiga, só...
A pureza do animal, que logo me tomou, e ali fiquei por vários minutos, talvez horas
Conversando e pensando
A gravidade puxou minhas lágrimas em direção a lente de meus óculos
Ao lado dela vi alguns barulhentos carros passarem, e ela atenta todo tempo
Encolhida por baixo do banco, viu me afastar colocando de volta os fones
Disse que ia voltar, ela nem se mexeu. Continuei
Ainda no meio do caminho para a praia, fui cantando
Logo ali estava, junto a brisa que me tomava
Sem os fones para ouvi-lo, pedalando na areia, entre o mar e o morro
As árvores ali pareciam de mentira, junto aos quiosques
Talvez para enfeitar a vista de quem vê
Até o fim da grande praia, voltei
Agradecendo sempre por poder presenciar sua beleza
Olhando para tudo que conseguia olhar, mas nem sempre
A vontade de conhecer, conhecer a si próprio, conhecer a natureza
Foi um ótimo momento, todo ele
Um pouco mais rápido voltei à Linda
Ela ainda deitada encolhida em baixo do banco
Parei, sentei, e ali fiquei mais um tanto
Pensando no amor puro, essa pureza que é tão extinta no ser humano, o respeito
Logo mais lágrimas, mas feliz com essa presença
Conversei mais um pouco com ela, ela não me falou uma palavra
Mas seu olhar dizia muito, e como dizia...
Levantei-me e subi na bicicleta mais uma vez, para voltar para casa, e dormir
Me afastando olhei para ela, olhar brilhante em minha direção
E eu a olhei de volta, como que dizendo: "Até logo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário